Autopsicografia (pequena análise)

09/07/2011 21:38

Aproveitando a coluna´- Rítmo e Poesia, vou pegar uma carona na postagem do meu amigo Vinícius sobre o poema --> Autopsicografia, de Fernando Pessoa. A presente análise foi elaborada para um trabalho acadêmico da disciplina Teoria da Literatura II.

 Verificamos que Fernando Pessoa viveu na época do modernismo português, portanto presenciou conflitos que Portugal sofreu após a primeira guerra mundial. Na época da publicação do poema, Autopsicografia, Portugal estava vivendo uma ditadura com princípios autoritários. Enquanto o governo se ocultava, Fernando Pessoa buscava em seu poema o oposto do que Portugal buscava, o poeta desejava se conhecer, e por isso o título – Autopsicografia. O termo psicografia provém do espiritismo, prática essa na qual a pessoa recebe um espírito e escreve. Fernando Pessoa o recebe - o ‘eu lírico’, uma maneira do poeta se conhecer. O fato de Pessoa ter criado heterônimos, os quais segundo ele chegavam sem pedir licença, tem muito a ver com a espiritualidade do poeta.

Na primeira estrofe quando Pessoa escreve “o poeta é um fingidor”, não usa a palavra fingidor com o sentido dicionarizado, de o poeta ser mentiroso. E sim, pelo fato do poeta não precisar sentir para escrever algo, não precisar perder um amor para escrever sobre a ausência da pessoa amada, por exemplo; e, por outro lado, quando o poeta sente a dor e a transcreve em forma de poesia, ao colocá-la no papel, dará a sensação de fingimento ao leitor, isto é, para o leitor foi somente a imaginação do poeta e não “A dor que deveras sente.”

Na segunda estrofe, Pessoa continua falando dessa dor; e, afirma que o leitor não sente a dor que o poeta sente. Fernando Pessoa perdeu muitas pessoas queridas, tais como: pai, irmãos e um amigo escritor. Tinha muitos motivos pra sentir algumas dores (emocionalmente falando). Com a leitura do poema, notamos que: o poeta tem duas dores distintas, a dor que não existe (do poeta fingidor), e a dor real (que deveras sente); o leitor não sente nenhuma dessas dores, como constatamos no trecho: “Não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.” O leitor sente uma dor própria, pois como afirma Cândido (crítico literário), a literatura tem essa característica - a sociedade se reconhece no texto, isso ocorre com o leitor, ele se identifica com o poeta e sente uma dor única, cada leitor interpretará e até mesmo sentirá esta dor de forma peculiar.

Na última estrofe cada leitor também fará sua 'própria leitura'. O poeta parece não ter como explicar a dor e culpa o coração por isso, a palavra coração aqui, não no sentido dicionarizado (órgão do corpo humano), mas com um sentido metafórico que traduz emoções, sentimentos.