As Cartas de Fernando Pessoa e Cássia Elle

24/10/2011 23:44

 

As Cartas de Fernando Pessoa e Cássia Eller - Por: Vinícius Pimentel


Por: Vinícius Pimentel

 Estimados leitores, já que o assunto do nosso site, desta  semana está relacionada às “Cartas”, a coluna "Ritmo & Poesia",  irá traçar um paralelo entre a Música “E.C.T.” de Cássia Eller e o poema “Cartas de Amor” de Fernando Pessoa que fora assinado pelo seu heterônimo Álvaro de Campos.

 A música de Cássia Eller, conta a história de uma mulher, que, impaciente pela demora na entrega de sua correspondência, se dirige até os correios para tentar encontrá-la. Chegando lá, a mulher pega o carteiro lendo a carta que a endereçava, ele toma um susto ao ser pego violando a carta. Isso fica evidente na seguinte passagem da música “Esse recado veio pra mim, não pro senhor”.

A mulher insatisfeita afirma que o carteiro “tem a língua solta”, pois além de ter lido sua carta, transformou-a em música. Para tentar se explicar, o carteiro diz que, recebe todo tipo de correspondência e por isso ele abriu, ela, por sua vez diz que aquilo é muito pessoal, pois é uma carta de amor que interessava só a ela; e como forma de resposta o carteiro diz que leva o mundo, mas não vai lá, ou seja, ele leva e trás notícias do mundo, sem ir aos diferentes lugares.

 Diferentemente da música de Cássia Eller, Fernando Pessoa, representado pelo seu heterônimo, caminha pelo viés das cartas de amor, afirmando que todas as cartas de amor são ridículas e para deixar a ideia ainda mais forte, o poeta movimenta sua poesia, assegurando que “não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”.

Há, na movimentação da poesia, certo saudosismo onde ao mesmo tempo o eu lírico retoma rapidamente a “consciência” de sua realidade, que fica evidente pela seguinte passagem, “também escrevi em meu tempo cartas de amor, como as outras, ridículas”.  É interessante ressaltar que durante a poesia acontece um movimento de oscilação, entre a importância de escrever e acreditar nas cartas de amor e ao fato das mesmas serem ridículas.

Para fechar a ideia das cartas de amor, o poeta entre parênteses diz que “(Todas as palavras esdrúxulas, como os sentimentos esdrúxulos, são naturalmente ridículas.)”.  Ou seja, todas as palavras extravagantes assim como os sentimentos extravagantes, são naturamente ridículos.  Vale advertir que neste trecho, o poeta, usa o mesmo termo, “esdrúxulas” para definir palavras e sentimentos, que para ele na verdade são sempre “Ridículos” e começam sempre com letras maiúsculas.

 

Por hoje é só, um grande e “Ridículo” abraço!

E.C.T. - Cássia Eller - Link: www.youtube.com/watch?v=hQB85Sh9Buk

Cartas de Amor - Fernando Pessoa - Link: www.youtube.com/watch?v=DrUBeOKL0Lo