Monte Castelo

03/08/2011 13:44

 

A mistura do português com o asiático deu origem a uma bela canção, estou falando de Monte Castelo - Por: Simara Nunes (Convidada)

Por: Vinícius Pimentel

A coluna "Ritmo & Poesia", desta semana, conta com a presença da Professora Silmara Nunes. Seja bem-vida a esta coluna amiga!
 Por: Silmara Nunes (Convidada)
 

A mistura do português com o asiático deu origem a uma bela canção, estou falando de Monte Castelo

 

 

Como podemos observar na coluna Gramática & Companhia, ao construir um texto usamos todo o nosso conhecimento de mundo, a língua é um instrumento de interação social; e, quanto maior o conhecimento de mundo, mais rico será o texto. Vejamos a riqueza da canção Monte Castelo, a intertextualidade que fez uso o compositor é fascinante.

Mas, quem é português? Me refiro ao poeta português, Luís Vaz de Camões, o autor de Os Lusíadas, também autor do poema 11 intitulado – Amor é fogo que arde sem se ver. Este poema foi escrito no final do século XVI.

Confira a letra:

 

Amor é fogo que arde sem se ver

 

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 

Luís Vaz de Camões

 

 Renato Russo fez o casamento perfeito para construir sua canção. Agora falo do asiático chamado Paulo de Tarso, nascido na antiga Cilícia (distrito da Ásia), viveu no ano 5 d.c, ou seja, viveu mais de 1500 anos antes de Camões e ambos falaram sobre o amor. Paulo, ou São Paulo se preferir, falava do amor fraternal (de amigo ou irmão), o amor ágape, aquele que se sacrifica pelo bem do outro. É um amor prático, abnegado, que não espera nada em troca.Enquanto que, Camões falava do amor Eros (paixão), Camões mostra o paradoxo do amor, por isso há tantas antíteses no poema. 

Veja o trecho bíblico de I Coríntios 13:

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.

Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.

É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.

(Apóstolo Paulo/ I Coríntios 13) 

O título da música faz referencia, ainda que de forma implícita, a conquista do Monte Castelo na Cordilheira Apenina, norte da Itália “ foi uma atuação heróica dos soldados brasileiros. Mesmo mal treinados, com equipamento inadequado e enfrentando um frio de até 15 ºC negativos, eles conseguiram derrotar as forças alemãs que estavam entrincheiradas no alto do monte Castelo. O resultado das operações conjuntas com outras forças na batalha foi a expulsão dos alemães dos montes Apeninos, permitindo uma ofensiva dos aliados no norte da Itália que marcaria o fim dos confrontos no país”. (Roberto Navarro) 

 

 

Estou acordado e todos dormem, todos dormem, todos dormem. 

A única frase da música que não faz referência a nenhum texto pode ter várias interpretações, o que o poeta-compositor Renato Russo estava dizendo com esta frase?

Ele, o eu – lírico, estava acordado; e quem estava dormindo? Ele responde: TODOS!

Tal afirmação pode ponderar sobre o fato dele está vivo e dos outros: Camões, Paulo e os soldados que lutaram na guerra estarem mortos. Outra análise possível, refere-se ao fato de toda a humanidade está dormindo, com sentido de está desprezando o amor; e ele, o eu – lírico, está acordado para o amor. 

Diga-nos você, internauta, o que significa a frase? Comente este arquivo com a resposta. 

 Obrigada pelo convite Vinícius,

 Silmara Nunes