A dura Poesia Concreta de Tuas Esquinas

20/07/2011 09:28

 

A dura Poesia Concreta de Tuas Esquinas


Por: Vinícius Pimentel

A dura Poesia Concreta de Tuas Esquinas

 

Caros leitores, durante este final de semana estive na maravilhosa cidade de São Paulo! Aliás, lá está muito frio. Vivi momentos inesquecíveis, e devido a este maravilhoso fato, gostaria de aproveitar o ensejo; e, dedicar à coluna “Ritmo & Poesia” desta semana uma homenagem à maravilhosa terra da garoa.
Falar de São Paulo é o mesmo que brincar com a diversidade cultural, pois a amada cidade retrata a riquezas quanto às raças, crenças e etnias. Para abrilhantar esta postagem, vamos navegar em águas cristalinas de Caetano Veloso, por meio de sua composição “Sampa”.Que conta e apresenta de maneira concreta e extraordinária tudo que existe de mais belo na cidade de São Paulo. Após esse, passeio desembarcaremos no porto  Vinícius de Moraesque por intermédio de seu Soneto Sentimental à Cidade de São Paulo”,  faz uma apresentação comparativa entre o que há de bom e ruim dentro da cidade criando assim uma pequena incerteza, pois o poeta retrata por meio de seu soneto uma relação de subjetividade tratando São Paulo como uma bela mulher que o faz viver de maneira saudosista.
 
 
Sampa
Composição: Caetano Veloso
 
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
 
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
 
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
 
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas

Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
 
Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mais possível novo quilombo de Zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa
 

 

Soneto Sentimental à Cidade de São Paulo

Vinícius de Moraes
 
 Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária, que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia

Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e frígida.

Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera

Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?
 
 
 
Um grande e caloroso abraço, por hoje é só!!!!